Pedro e joão eram analfabeto, Respondendo aos Cristãos


Muitas pessoas acreditam que os apóstolos Pedro e João eram analfabetos, de modo que não poderiam ser os autores dos livros bíblicos a eles atribuídos. A confusão surge como resultado de uma má interpretação de um versículo do livro de Atos dos Apóstolos, a saber Atos 4:13:

Então eles, vendo a ousadia de Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e indoutos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado com Jesus.”

E então, será que Pedro e João eram realmente analfabetos?

A palavra grega traduzida como “sem letras” ou “iletrados” nesse versículo foi “άγράμματοί” e a palavra traduzida como “indoutos” foi “ιδιωτης”, que significa “soldado comum em oposição ou comparação a um oficial militar” ou “alguém em oposição ou comparação ao culto e educado”. Ao usar essas palavras, Lucas, o autor do livro Atos dos Apóstolos, não está afirmando que Pedro e João eram analfabetos, mas que eles eram homens “comuns”, “humildes”, “sem muita instrução”. Eles não eram eruditos ou doutores da Lei, mas homens do povo.

Ben Whiterington III é um acadêmico norte-americano e autor de mais de 30 livros de investigações sobre o Jesus histórico. É também professor no Seminário Teológico de Asbury, nos Estados Unidos e no programa de doutoramento na Universidade de St Andrews, na Escócia. Segundo ele, o melhor significado para o termo άγράμματοί seria algo como “não treinado na lei judaica”. Pedro e João estavam sendo acusados de não terem recebido instrução de rabinos e, portanto, não tinham o direito de citar as Escrituras Hebraicas, como eles estavam citando e interpretando (he Acts of Apostles: A Socio-Rhetorical Commentary (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1988), p. 195-197).


Russell N. Champlin, Ph.D em línguas clássicas e bacharel em literatura bíblica parece concordar com Ben Whiterington III. Ele diz:

“A referência especial […] sem dúvida diz respeito a cultura rabínica, e não a educação elementar dos apóstolos. Pedro não exibia o refinamento de linguagem que um rabino culto geralmente empregava.  […] Não haviam os apóstolos sido criados aos pés dos doutos, em qualquer das escolas e universidades dos judeus”. (Russell N. Champlin, Ph.D – Novo Testamento, Interpretado Versículo por Versículo)

Ao contrário do que muita gente pensa, dificilmente existiria um analfabeto entre os judeus daquela época, pois nas sinagogas existiam também escolas, onde os jovens eram instruídos no ensino da Torá.  Aos 13 anos de idade, os meninos já estavam aptos a fazer o rito de iniciação, chamado Bar Mitzvah. Durante esse rito, o menino lia e interpretava uma passagem das Escrituras diante da comunidade.

“Os judeus do primeiro século eram um povo inteligente, com forte senso de apreciação da cultura. […] Na época do Novo Testamento, muitas famílias possuíam exemplares do Torá, e os pais ensinavam regularmente a seus filhos.[…] A maioria do povo sabia ler não apenas em sua língua nativa, mas também em grego e latim. […] Nos dias de Cristo, a escola já era coisa comum, e o povo não era apenas alfabetizado, mas realizava estudos avançados em filosofia, línguas, matemática e outras disciplinas. […] Para avaliação da aprendizagem, os alunos tinham que recitar longas passagens das Escrituras com perfeição. É por isso que tanto Jesus quanto outros conheciam tão bem as Escrituras. […] Embora as Escrituras fossem a base da educação de um israelita, não era absolutamente a única disciplina. Eles estudavam também literatura, escrita, música, matemática, engenharia, direito.” (Coleman, Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos, Ed. Betânia.)

Todo leitor assíduo da Bíblia sabe que Pedro era um homem humilde. Mas nem por isso podemos dizer que ele era analfabeto. Pedro se identifica como o autor de dois livros do Novo Testamento (1Pedro e 2Pedro). O primeiro livro foi escrito com a ajuda de um escriba chamado Silvano (1Pedro 5:12), mas o segundo livro parece ter sido escrito de próprio punho, onde Pedro empregou seu próprio grego galileu singelo.

A autoria do livro de Apocalipse é sem dúvida de João. Ele mesmo se identifica algumas vezes como autor.

Vejamos o que Jesus disse a ele:

“Eu, João, que também sou vosso irmão, e companheiro na aflição, e no reino, e paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo. Eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor, e ouvi de trás de mim uma grande voz, como de trombeta, que dizia: Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia.” (Apocalipse 1:9-11)

É claro que Jesus não mandaria João escrever sobre suas visões se o mesmo fosse analfabeto!

O mesmo se aplica a Jesus. Vejamos, por exemplo, o que os judeus disseram a respeito dEle:

“Os judeus ficaram admirados e perguntaram: ‘Como foi que este homem adquiriu tanta instrução, sem ter estudado?’” (João 7:15)

Este é um caso semelhante ao dos apóstolos. Jesus falava sobre as Escrituras com uma eloquência e conhecimento incomuns para uma pessoa do povo. Por essa razão, os judeus se admiravam. A expressão “sem ter estudado” significa que Jesus era analfabeto? De forma alguma, pois Jesus sabia ler e escrever:

“E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.” (Lucas 4:16)

“E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.” (João 8: 7 – 8)

Jesus não era analfabeto; Ele sabia ler e escrever, mas não tinha muito estudo, apenas. O mesmo se aplica aos apóstolos: Eles não tinham o mesmo nível de instrução de um rabino, por exemplo, mas nem por isso eram analfabetos, pois sabiam ler e escrever. Eles conheciam muito bem a Escritura.


Fontes : https://defendendoafecrista.wordpress.com/2015/10/08/pedro-e-joao-eram-analfabetos/


Prof Rafael Nascimento Respondendo ao site cristão e aos cristãos!



Bom a passagem da qual se refere , aonde diz que jesus cristo escreveu na terra nos mais antigo manuscritos em grego não existe afinal essa passagem é aonde fala-se da mulher adúltera e essa mesma passagens não é encontrada nos manuscritos mais antigo , então não existe !!

Referente  A palavra grega traduzida como “sem letras” ou “iletrados” nesse versículo foi “άγράμματοί” e a palavra traduzida como “indoutos” foi “ιδιωτης”, realmente pode significar uma pessoa não versada a lei rabinica ou judaica , só que o problema que naquele tempo os individuos que tinha a oportunidade de lê e escrever faziam parte da nata da nata ou seja alto escalões do sinedrio , e pedro como pescador não tinha isso em mente segundo os textos..

é como na idade média os únicos que poderia estudar era os padres e bispos e cardeais , e por isso eram os únicos capazes de intepretar a Bíblia , porque sabiam lê e escrever , diferenciando disso apenas a nobreza e o clero.


Trecho do livro do PHD Bart ehrmann

O que sabemos sobre alfabetização e capacidade de escrita no mundo antigo, em especial na Palestina rural, onde Simão Pedro nasceu e foi criado? Estudiosos da Antiguidade foram diligentes nos últimos 25 anos, aproximadamente, em tentar entender todos os aspectos da alfabetização e da educação daquele tempo. Para o que é hoje um estudo clássico, o livro Ancient Literacy, de 1989,William Harris, professor de história antiga da Universidade de Colúmbia, mostra que as suposições
modernas acerca da alfabetização não se aplicam aos tempos antigos.

Harris argumenta que no mundo antigo, nas melhores épocas, apenas cerca de 10% da população era razoavelmente alfabetizada. Por “melhores épocas” ele quer dizer Atenas, um centro de conhecimento, no auge de seu poder intelectual, durante os dias de Sócrates e Platão (séculos V-IV a.C.). A maioria desses 10% era de homens, como esperado em uma sociedade patriarcal. E todos pertenciam às classes superiores, a elite social e econômica que tinha o tempo livre e o dinheiro (bem, seus pais tinham o dinheiro) para pagar uma educação. As pessoas das classes inferiores não aprendiam a ler, muito menos escrever. E a imensa maioria das pessoas no mundo antigo era das classes inferiores (para surpresa de muitos, a “classe média” é outra invenção da Revolução Industrial; no mundo antigo, quase todos eram de classe alta ou baixa, ou muito baixa). As únicas exceções notáveis eram os escravos, por natureza uma classe muito baixa, mas que algumas vezes eram educados pelos seus senhores para que pudessem cumprir tarefas domésticas que exigissem
alfabetização, como cuidar das finanças da casa, ajudar na correspondência ou ensinar as crianças.

Quando digo que poucas pessoas sabiam ler, “muito menos escrever”, quero dizer algo muito significativo sobre o mundo antigo. Quando as pessoas das classes superiores eram educadas, ler e escrever eram atividades ensinadas como duas habilidades diferentes, Hoje aprendemos a ler e escrever ao mesmo tempo, e naturalmente supomos que, se a pessoa sabe ler, também pode escrever — não necessariamente escrever um romance, mas pelo menos uma carta. Mas isso se deve ao modo como organizamos nosso sistema educacional.

A maioria das pessoas no mundo antigo não sabia ler. E aqueles que sabiam ler, com frequência,  não sabiam escrever. E, nesse caso, com “escrever” quero dizer que a maioria das pessoas — mesmo podendo copiar palavras — não conseguia compor uma sentença, muito menos um tratado com boa argumentação. Ao contrário, as pessoas capazes de compor um ensaio sobre ética, uma discussão filosófica erudita ou um tratado religioso intrincado eram pessoas muito educadas e muito excepcionais. E isso na melhor das hipóteses. De fato, muito poucas pessoas eram capazes dessas habilidades em um idioma que não aquele com o qual foram criadas. Não estou dizendo que apenas 1% da população podia fazer tal coisa. Estou dizendo que muito menos que 1% da população podia fazer isso.

Algumas vezes acreditou-se que a Palestina era uma exceção, que nela todos os meninos judeus aprendiam a ler para poder estudar as Escrituras hebraicas, e que, como sabiam ler, provavelmente podiam escrever. Mais ainda, costuma-se argumentar que na Palestina a maioria dos adultos era bilíngue ou mesmo trilíngue, capaz de ler hebraico, falar o idioma local, aramaico, e se comunicar bem no idioma do império ampliado, o grego. Contudo, recentes estudos sobre a alfabetização na Palestina mostraram que nenhuma dessas afirmativas é verdadeira.

O estudo mais completo, mais extensamente pesquisado e mais amplamente influente sobre a alfabetização na Palestina na época do Império Romano é de Catherine Hezser. Após estudar todas as evidências, Hezser conclui que, na Palestina romana, a melhor estimativa é que algo em torno de 3% da população fosse capaz de ler, e que a maioria desses viveria em cidades e vilas maiores. A maior parte das pessoas fora das áreas urbanas dificilmente teria visto, algum dia, um texto escrito. Algumas cidades menores e aldeias poderiam ter um índice de alfabetização em torno de 1%. Ademais, essas pessoas alfabetizadas eram quase sempre a elite das classes superiores. Aqueles que aprendiam a ler liam hebraico, não grego.

E ainda por cima, de novo, muito mais pessoas podiam ler em vez de escrever. As pessoas que sabiam escrever eram principalmente homens do sacerdócio. Durante todo o século I d.C. (a época de Jesus e Simão Pedro), temos certeza de apenas dois autores na Palestina que produziram obras literárias (isto é, composições cultas que não documentos fiscais, transferências de terras ou certidões de casamento etc.): o historiador judeu Josefo e um homem chamado Justo de Tiberíades.
Ainda temos os escritos de Josefo, mas os de Justo não sobreviveram. Os dois homens eram dos escalões superiores da sociedade, e ambos atipicamente bem-educados. Não temos conhecimento de qualquer outro autor literário ao longo de todo o século. Seria Pedro da mesma classe de Josefo e Justo? Não, nem de longe.

E quanto à educação em grego na terra em que Pedro nasceu e foi criado? Algumas vezes se imagina que, como a Galileia, a região norte do que hoje chamamos de Israel foi eventualmente chamada de “Galileia dos gentios”, ela era repleta de gentios na época de Jesus e Pedro. E, segundo um tipo comum de lógica, se havia muitos gentios na Galileia, deviam falar grego; em nome da convivência, todos tinham de falar grego. Mas isso também não é verdade.

Os estudos recentes mais abrangentes sobre os gentios na Galileia foram feitos pelo estudioso americano Mark Chancey, Ele estudou todas as descobertas arqueológicas da Galileia por volta do século I, leu todos os textos minimamente relevantes do período e chegou a uma conclusão decisiva: os gentios da Galileia se localizavam quase exclusivamente nas duas maiores cidades, Séforis e Tiberíades. Todo o resto da Galileia era predominantemente judeu. E, como a maior parte da Galileia
era rural, não urbana, a imensa maioria dos judeus não se encontrava com gentios. Além disso, o grego não era muito falado. A imensa maioria dos judeus falava aramaico e não tinha facilidade em grego.

Como todas essas descobertas afetam nossa questão de se Pedro escreveu 1 e 2 Pedro ou qualquer outro livro? Estaria Pedro entre os escalões mais altos da elite educada da Palestina que podiam compor ensaios epistolares em grego? Afora os relatos lendários que mencionei, tudo que sabemos sobre a vida de Pedro vem do Novo Testamento. O principal que aprendemos sobre ele é que, antes de ser um seguidor de Jesus, era pescador em Cafarnaum, na Galileia.

Portanto, para avaliar as capacidades linguísticas de Pedro, o ponto de partida é Cafarnaum. Um resumo completo do que sabemos sobre Cafarnaum na época de Pedro é fornecido por um arqueólogo americano da Palestina, Jonathan Reed. Com base em escavações arqueológicas e fontes históricas, está claro que Cafarnaum era uma aldeia historicamente insignificante do interior da Galileia. Ela nunca é mencionada em qualquer fonte antiga antes dos evangelhos. Mal é
mencionada em qualquer fonte depois disso. Foi localizada pelos arqueólogos no século XIX e tem sido escavada desde então. Na época de Jesus, devia ter tido algo entre seiscentos e 1.500 habitantes; portanto, digamos que fossem mil.

As escavações arqueológicas não revelaram evidências de nenhum prédio público, como lojas ou depósitos.O mercado de venda de comida e outras necessidades devia acontecer em barracas ou tabuleiros em áreas públicas sem calçamento. A cidade não está em nenhuma das grandes rotas comerciais internacionais. As estradas romanas na região datam de cem anos após a vida de Pedro. Não há vestígios de qualquer população pagã ou gentia na cidade. Não há inscrições de qualquer tipo em qualquer dos prédios. Reed conclui que os habitantes eram muito provavelmente “predominantemente analfabetos”. Os arqueólogos não encontraram estruturas de prédios ou materiais associados às elites sociais do século I (como superfícies emboçadas, afrescos decorativos, mármore, mosaicos, telhas de cerâmica vermelha). As casas eram construídas de modo grosseiro com pedras de basalto e lama ou argila para preencher as lacunas; é provável que tivessem tetos de palha.Resumindo, a cidade de Pedro era uma aldeia judaica atrasada, composta de trabalhadores miseráveis que não tinham educação. Todos falavam aramaico. Nada sugere que alguém soubesse falar grego. Nada sugere que alguém na cidade soubesse escrever. Como pescador de classe baixa,
Pedro teria começado a trabalhar quando criança e sem nunca frequentar uma escola. De fato, é provável que não houvesse escola ali; se houvesse uma, ele provavelmente não a frequentava; e, se frequentasse, teria sido para receber uma educação rudimentar para ler hebraico. Mas isso provavelmente não aconteceu. Pedro era um camponês analfabeto.

Na verdade, isso não devia ser surpresa. Há no Novo Testamento evidências do nível de educação de Pedro. Segundo Atos 4,13, Pedro e seu companheiro João, também pescador, eram agrammatoi, uma palavra grega que significa literalmente “iletrados”, ou seja, “analfabetos”. E, assim, é possível que Pedro tenha escrito 1 e 2 Pedro? Vimos bons motivos para acreditar que ele não escreveu 2 Pedro, e alguns motivos para pensar que não escreveu 1 Pedro. Ao contrário, é
provável que ele não soubesse escrever. Devo destacar que o livro 1 Pedro é escrito por um cristão bem-alfabetizado, bem-educado na língua grega, que conhece bem as Escrituras hebraicas em sua tradução para o grego, a Septuaginta. Esse não é Pedro.

É possível, claro, que Pedro tenha decidido ir para a escola após a ressurreição de Jesus. Nessa hipótese imaginativa (para não dizer imaginária), ele aprendeu o alfabeto, aprendeu a pronunciar sílabas e depois palavras, aprendeu a ler e aprendeu a escrever. Depois fez aulas de grego, dominou o grego como língua estrangeira e começou a decorar trechos da Septuaginta, depois teve aulas de composição em grego e aprendeu a construir frases complicadas e eficazes; então, no fim de sua vida, escreveu 1 Pedro.

Esse cenário é plausível? Afora o fato de que não temos conhecimento de aulas de “educação para adultos” na Antiguidade não há evidência de que isso existisse —, acho que as pessoas mais razoáveis concluiriam que Pedro provavelmente tinha outras coisas na cabeça e nas mãos após ter passado a acreditar que Jesus foi erguido dos mortos. É provável que ele não tenha pensado um só segundo em aprender e se tornar um autor grego habilidoso.
Alguns acadêmicos sugeriram que Pedro não escreveu diretamente 1 Pedro (como já indiquei, quase ninguém acha que ele escreveu 2 Pedro), mas que a escreveu indiretamente, por exemplo, ditando a carta a um escriba. Alguns observaram que a carta é escrita “por intermédio de Silvano” (5,12) e acharam que talvez Silvano tenha escrito os pensamentos de Pedro para ele. Lido com essa questão de se escribas ou secretários algum dia compuseram ensaios epistolares como esses no
capítulo 4. A resposta é “Provavelmente não”. Mas, por ora, posso dizer pelo menos duas coisas sobre o caso de 1 Pedro.

Para começar, os acadêmicos atuais em geral reconhecem que quando o autor indica ter escrito o livro “por intermédio de Silvano” está indicando não o nome de seu secretário, mas da pessoa que levava a carta aos destinatários. Autores que usaram secretários não se referem a eles dessa forma. No entanto, por que não supor que Pedro usou outra pessoa que não Silvano como secretário? Ajudaria imaginar como essa teoria deveria funcionar. Pedro não podia ter ditado essa carta em grego para um secretário mais do que podia tê-la escrito em grego. Isso teria exigido que ele fosse fluente em grego, dominasse técnicas retóricas em grego e tivesse um grande conhecimento das Escrituras judaicas também em grego. Nada disso é plausível. Nem é fácil pensar que ele ditou a carta em aramaico e o secretário a traduziu para o grego. A carta não soa como uma tradução para o grego de um original aramaico, mas como uma composição originalmente grega, com floreios retóricos gregos. Ademais, a carta pressupõe o conhecimento do Antigo Testamento grego, de modo que a pessoa que compôs a carta (oralmente ou por escrito) tinha de conhecer as Escrituras em grego.
É possível, então, que o Pedro histórico tivesse orientado alguém a escrever uma carta, basicamente transmitindo a ele o que dizer, deixando que a produzisse? Há duas respostas para isso. Em primeiro lugar, pareceria que, se outra pessoa compôs a carta, seria essa pessoa, e não Pedro, o autor. Mas a outra pessoa nunca é citada. Mesmo nas cartas de Pedro, que são escritas em parceria (quase todas elas), ele cita os outros, embora provavelmente as tenha escrito ele mesmo. Nesse caso, Pedro não teria sequer escrito tal coisa. E é preciso lembrar que há bons motivos para pensar que a carta foi escrita após a morte de Pedro, já que alude à destruição de Jerusalém por Roma no ano 70 d.C. Entretanto, ainda mais convincente é isto. Onde no mundo antigo temos alguma coisa análoga a essa situação hipotética de alguém escrever um ensaio epistolar para outra pessoa e colocar o nome dessa pessoa nele — o nome da pessoa que não o escreveu — em vez do seu próprio nome? Até onde sei, não há, na Antiguidade, um único caso atestado de tal procedimento nem qualquer
discussão, em qualquer fonte antiga, sobre isso ser uma prática legítima. Ou mesmo ilegítima. Tal coisa nunca é discutida.Contudo, há muitos casos de outro fenômeno: o de autores cristãos escrevendo obras
pseudônimas, alegando falsamente ser uma pessoa famosa. Acadêmicos antigos teriam chamado um livro assim de uma escrita “falsamente registrada”, uma “mentira”, um filho “ilegítimo”. Pessoas modernas o chamariam de falsificação.


Bibliografia:

Raffaella Cribbiore, Gymnastics of the Mind: Greek Education in Hellenistic and Roman
Egypt (Princeton: Princeton University Press, 2001).

Christopher Gill e T.P. Wiseman
(orgs.), Lies and Fiction in the Ancient World (Austin: University of Texas Press, 1993).

Atos de Pedro, ver J.K. Elliot, TheApocryphal New Testament (Oxford: Clarendon, 1993), pp. 390-30; e Wilhelm Schneemelcher, NewTestament Apocrypha, tradução para o inglês por R. McL. Wilson, da sexta edição alemã, 2 vols.
(Louisville: Westminster John Knox, 1991-92), 2.271-321.

Mark Chancey, The Myth of a Gentile Galilee (Cambridge: Cambridge University Press, 2002)

Greco-Roman Culture and the Galilee of Jesus (Cambridge:Cambridge University Press, 2005).

Jonathan Reed, Archaeology and the Galilean Jesus (Harrisburg: Trinity Press International, 2000), pp.
140-69.

Catherine Hezser, Literacy in Roman Palestine (Tubingen: Mohr Siebeck, 2001).

William Harris, Ancient Literacy (Cambridge: Harvard University Press, 1989).


























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